Recebido por e-mail, e com a devida vénia, fica aqui um texto, no mínimo, bastante inteligente:
O futebol é um fenómeno novo, o único, no dizer de Nelson Mandela, capaz de unir todos os povos do mundo. E porquê? Porque é uma festa contra o vazio, contra o cinzentismo do dia-a-dia, contra a chatice, a rotina, a monotonia, contra a angústia e a solidão, a ameaça do desemprego ou o trabalho sem motivação. Uma festa que tem por símbolos uma camisola, um hino, uma bandeira, símbolos que nada têm a ver com nacionalismos selvagens, antes são elos afectivos das pessoas com a sua selecção, com o seu país e outros países, com os seus vizinhos, com os seus amigos e com os desconhecidos a quem apetece sorrir ou até abraçar. De certo modo o futebol é a nova revolução mundial, uma revolução afectiva, sem dogmas nem ditadores, uma revolução em que a festa é inseparável de um certo prazer de sofrer em comum pelo mesmo objectivo: o golo, a vitória, a alegria de saltar, empunhar a bandeira, vir para a rua celebrar. Há nesta liturgia singular o renascimento da perdida relação com o sagrado. É talvez o mistério e o fascínio do futebol. Durante todos estes dias, as pessoas têm andado contentes e mobilizadas. Nem Durão Barroso conseguiu estragar a festa. Não é pecado gostar de futebol. Pecado é o complexo de culpa em relação aos sentimentos que o futebol desperta. Que mal faz um pouco mais de patriotismo, um pouco mais de alegria e até um pouco de esperança em não se sabe o quê nem porquê? "Mas o futebol não muda nada", diz-me outro não menos ilustre amigo. Engana-se. O futebol muda o estado de espírito. E em se mudando o estado de espírito se muda também a vida. Nesse sentido, o Euro e a Selecção de Portugal, parafraseando Camões, já mudaram o ser e a própria confiança. Enquanto durou o campeonato, Portugal foi uma equipa, dentro e fora do campo. Não é coisa de somenos.
Manuel Alegre
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