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quarta-feira, março 16, 2005

Escola Secundária dos Anjos, or as i know it, a maternidade:

Quando acabei de ver um episódio da grandiosa série "Mad about you" (faltam 9 episódios para acabar a última série...e eu já estou com saudades...é mesmo muito boa) - e, sim, na Sic Mulher - mudei para o telejornal da SIC e vi o Presidente Sampaio a discursar à frente de uma sigla - CNAI - Centro Nacional de Apoio ao Imigrante. E percebi que aquele lugar era particularmente familiar. Ali foi a minha escola do 3º ciclo. Foram 3 anos, que por circunstâncias várias que não vale a pena aqui abordar, que mudaram (como nenhuns outros) a minha vida. Ali renasci. Ali tive as primeiras paixões. Ali percebi o que era isso da "amizade". Ali, ainda na inocência imberbe dos 15 anos, passei horas só a ver alguém serrar uma mesa (e não consegui ainda desfazer me do casaco que detêm mais de metade dessa mesa, em serradura) só porque sim. Só porque gostava. Só porque era inocente. Ali ganhei gosto pela "coisa" pública, nas minhas primeiras manifestações - precisamente para não fecharem a escola. Ali me fiz gente. Foi dali que emanou mais de 90% do que ainda sou hoje. Ali voltei a sorrir. Ali fui gozado, naquela gozação que na altura doía, mas que hoje sei apreciar, porque é própria das crianças. Ali aprendi a gostar de ombros. Ali andei baixo-cima a avenida, só para poder estar mais uns segundos com alguém. Nestes dias é díficil acontecer o que acontecia ali. Num bairro da lisboa degradada, paredes meias com o mundo decadente do Intendente, havia umas dezenas de míudos que se divertiam com a sua pequenez. Pequenez que foi cortada pela mão insensível dos orçamentos. Hoje já não há ali mais míudos para se divertirem. Ali já não há professores para se admirarem. Ali já ninguém se conhece pelo nome. Bem me dizem que agora é "útil". Poderá ser. Mas enquanto estiver em cima deste mesmo monitor para onde olho, enquanto escrevo estas palavras, o apagador que trouxe no último dia que aquilo esteve aberto a esses míudos, para mim continuará a ser "A maternidade" (termo que só três pessoas neste mundo compreendem). Porque foi daquelas paredes que me fiz homem. Enquanto dentro desse apagador estiver uma pétala da árvore daquele pátio, eu continuarei a dizer que aquele é o meu sítio. E por cada dia que passei, sentado em frente a este monitor, sem ligar ao significado deste pedaço de madeira e esponja velha que o emcima, é um pouco de mim que não reconheci. Ali fui o melhor que alguma vez fui. Porque era inocente. E hoje voltei a ter essa inocência - ainda que por breves momentos, quando acabei de escrever este post a engolir lágrimas...

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