Portugal, esse país africano, erradamente na Europa (3):
O mau jornalismo
A primeira parte da entrevista de Francisco Penim ao Diário de Notícias (pessoa que eu até acho que é das poucas - a única? - pessoas que percebe alguma coisa de entretenimento televisivo em Portugal), sobre a saída do "Gato Fedorento" da SIC, é surrealista. São 21 perguntas dos jornalistas do DN e são...21 maneiras de dizer "não faço comentários". E a segunda parte da entrevista, sobre uma possível subida na estrutura da Impresa, não fica muito atrás. Se não lhe apetecia, ou não queria falar, o entrevistado tinha todo o direito de o fazer. E, em tendo-o feito, é surrealista, para não dizer patético, passar esta entrevista para o papel. Para já não falar de terem posto em "lead" da notícia a (quase) única frase que escapa ao modelo do "não faço comentários", mas que ainda assim não deixa de ser uma frase do mais puro senso comum.
O mau jornalismo leva (e bem sei que este é um caso muito pequenino e irrelevante) a uma má ideia da sociedade. Por exemplo, e não querendo entrar no esquema "lá-fora-é-que-é-bom", não houve ainda, nem por parte do DN nem por parte do Público, nem da Visão um estudo minimamente aprofundado sobre o impacte da OTA e do TGV. Por exemplo, de quem são os terrenos da OTA, ou quais das linhas do TGV têm, ou não, rendibilidade garantida. Ou, por exemplo, qual é o historial de derrapagem de projectos como este no nosso país, etc, etc, etc...
Quanto ao post anterior: Eu não ponho em dúvida que os jovens saiam do 9º ano com o "conhecimento académico" de quem foi António de Oliveira Salazar. Mas isso traduz-se, em termos do "conhecimento imediato" - aquele que nós sabemos na nossa memória, sem uso de livros para o auxiliar - em duas coisas: Nome e cargo. Não sabem mais do que o superficial sobre a Guerra Colonial; Sobre as relações com o mundo exterior do regime; Sobre a estrutura do regime em si mesma, mas isso é um mal geral, porque tanta vez que foi repetida a ideia que "o Salazar era facho, pá!" que a coisa pegou, mesmo não sendo de todo verdade (o Estado Novo tinha várias diferenças ideológicas com o regime de Mussolini - que serve normalmente de bússola para saber se uma ditadura foi de índole fascista ou não); Não sabendo a nossa História, não podemos ir bem preparados para o futuro.
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